- Quem é essa pessoa? - eu perguntei curioso
- Você saberá quando a encontrarmos. - Vitor disse seco.
Novamente uma lufada de vento veiosobre mim e eu reparei que possuía apenas um lençol cobrindo o meu corpo, não poderia sair de um necrotério vestindo apenas um lençol, caminhar até a porta da frente e torcer para que ninguém me notasse.... não ia acontecer.
- Se você não se importa, acho que deveríamos arrumar algumas roupas para mim.
Ele olhou para mim e percebeu a ironia na minha voz.
- Hum... Você está certo, tinha me esquecido disso. Você gosta de roupas pretas não gosta?
- Gosto... Ma...
Antes que eu pudesse terminar a frase ele desapareceu numa onda de luz, bem diante de mim.
- Mas acho que você só vai achar branco neste hospital. - eu disse para o vazio à minha frente.
- Você disse alguma coisa? - a voz veio de algum lugar atrás de mim.
Quando me virei lá estava ele olhando para uma blusa preta, uma calça jeans e um boot cuidadosamente colocados em cima de uma mesa.
- Espero que não tenha tirado isso de um cadáver. - Eu avisei.
- Não, a pessoa estava viva quando tirei dela.
- Isso não é roubar? Achei que isso fosse pecado.
- Não há mais Deus, garoto. Agora vista-se o tempo está correndo.
Acabei de me vestir com certa pressa, estava fazendo o melhor que pude com limitações de movimentos, já que meu corpo ainda estava se acostumando ao fato de que continuava vivo. Vitor achou que a viagem a pé demoraria muito então ele simplismente fez do jeito dele, tocou minha testa com dois dedos e me mandou fechar os olhos. Quando os abri novamente eu estava... estava em casa. Vitor tinha me trago para o lugar onde um dia fora a minha casa, mas agora só o que restava eram pilhas de entulho queimado. Aquilo doeu, finalmente eu percebi que não tinha mais para onde voltar, para quem voltar. Eu estava sozinho.
Olhei ao redor e procurei o motivo de estarmos ali. Sentada entre as cinzas estava uma garota, de costas para onde eu Vitor estávamos. Apesar de já ser noite eu a reconheci... era a garota do meu sonho, Laura.
- Finalmente vocês chegaram. - ela virou-se para nós
- Tivemos um contra tempo. - Vitor disse.
- Gabriel eu suponho... esse é o nosso pequeno herói? - Ela disse apontandopara mim como se eu fosse um inseto incapaz de entender o que estava se passando.
- Com licença Laura, mas eu não sou o herói. Primeiro porque heróis não existem, segundo que eu não pretendo salvar ninguém.
Ela pareceu surpresa por eu saber o nome dela, mas antes que alguém pudesseperceber realmente sua reação ela retomou o assunto.
- Você já contou a ele a história, Vitor? - ela virou-se para o arcanjo do meu lado.
- Não gosto de contar histórias, e além do mais eu nem queria estar aqui, por mim eu estaria lá em cima com Miguel me preparando para derrotar Lúcifer.
Ela sorriu, subiu um pequeno monte de entulho até chegar ao ponto mais alto, virou-se para nós e se sentou.
- Você sabe que ordens são ordens Vitor.
Ele arfou e revirou os olhos, parecia não concordar muito com aquilo. Laura olhou novamente para mim, depois olhou parao céu, parecia reunir forças.
- Há muito tempo Deus e o diabo fizeram uma aposta pelas almas dos seres humanos. Deus lhes ofereceu vida eterna e amor, o Diabo ofereceu prazer e dor eterna. Advinha quem está ganhando?
Foi a minha vez de sorrir, resolvi olhar para o céu também, uma grande nuvem negra cobria o céu, uma tempestade se aproximava.
- Deus desapareceu, e os sinais diso estão por toda a Terra, enchentes, mortes, terremotos, os Cavaleiros estão soltos. O céu está dividido, de um lado Miguel e seus anjos assumiram o controle do trono de Deus, do outro Gabriel e os anjos que estão com eles querem se unir a Lucífer, destruir toda a sua raça e formar uma família "feliz" novamente, como no início de todas as coisas. Mas quer saber, temos más notícias pra você Daniel.
- Não acredito que possa ser pior do que os meus últimos quatro dias. - eu devolvi
- A má notícia é que tanto um quanto outro querem você morto, você é o único empecilho para a aniquilação da humanidade. Miguel não quer você como ameaça no céu e Lúcifer quer você morto para não atrapalhar seus planos... Há também um terceiro lado, aquele que de alguma forma ainda acredita que Deus está por aí em algum lugar, nesse terceiro lado está eu, Vitor e Luciano, mas Luciano está preso, logo estamos ficando sem opções.
- Luciano está preso? - a notícia me pegou de surpresa - Onde ele está?
- Lúcifer está mantendo ele acorrentado e sendo torturado a cada minuto. - ela dizia friamente - O ponto é que você é o único que pode parar isso, eu não queria isso, não vejo nada de bom nos seres humanos, mas se o nosso Pai viu, se ele escolheu você, então precisamos te dar esse voto de confiança.
Quando ela acabou de dizer, um trovão ecoou no fundo bem ao longe. A chuva começou a cair, mas diferentemente das outras vezes, essa chuva parecia o choro Dele, o choro dele, dos meus pais, da Laura, do Luciano, do Vitor, de toda a humanidade que de um modo inconsciente depositava todas as suas esperanças em mim. Um garoto de 17 anos que nunca foi bom em nada, alguém que até aquele presente momento estaria disposto a deixar todos morrerem, mas essa era a minha chance, a chance de fazer diferente uma vez, de deixar meus pais orgulhosos onde quer que eles estivessem.
Nós... - Vitor inspirou, era difícil para ele dizer aquilo - nós precisamos de você garoto. Não é algo que eu queira, você nãoé quem nós queremos, mas é de quem nós precisamos.
Eu abaixaei a cabeça e deixei escapar um sorriso, pela primeira vez eu era realmente necessário para alguma coisa, não algo exatamente muito bom, mas era minha responsabilidade, eles estavam confiando em mim. Se era pra isso ser feito, que eu pudesse fazer da melhor maneira. Silenciosamente eu me fiz uma promessa, se eu conseguisse impedir o apocalipse, talvez eu conseguisse trazer meus pais de volta também...
- O que pretende fazer garoto?- Vitor me perguntou - Nós estamos com você.
Virei minha cabeça para o alto, deixei que a chuva lavasse meus pensamentos, só havia uma coisa a ser feita. Olhei para Laura no altodas cinzas, para Vitor do meu lado, eles confiavam em mim.
- Nós vamos matar o Diabo.
Os dois olharam para mim e sorriram, algo esperançoso, uma luz no meio das trevas.
Continua............................................
quarta-feira, 19 de maio de 2010
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