Estava frio... minhas costas estavam geladas, minhas mãos formigavam, parecia que eu estava na mesma posição há dias. Minha cabeça doía terrivelmente, se me perguntassem, eu poderia dizer que alguém tentou arrancar ela à força do meu corpo... talvez fosse verdade, eu não tinha certeza, a última coisa de que me lembrava era... era o fogo. Meus olhos se abriram de imediato e a luz forte me fez fechá-los de novo. Afastei com cuidado a luminária, onde eu estava?
Me apoiei na mesa e consegui me erguer, finalmente entendi o porquê de tanto frio, eu estava nu. Minha cabeça ainda martelava, mas eu consegui abrir os olhos e me forcei a olhar o que tinha a minha volta. Eu estava numa mesa, do lado dela uma pequena bancada, com vários instrumentos cirúrgicos, do outro lado outra mesa que assim como a minha, tinha um corpo em cima. Aquilo... Aquilo era um necrotério.
- E ao terceiro dia, ele se ergueu. - uma voz dizia do outro lado da sala.
Ainda não conseguia me mover direito, virei para o lado, perto da porta estav hum garoto, parecia ser um pouco mais velho do que eu, 3 anos no máximo. Ele sorria ironicamente pra mim. Seus olhos... seus olhos eram cinzentos como os de.... ah, não conseguia me lembrar.
- Onde eu estou?
Ele inspirou, fechou os olhos e sorriu, acho que ele estava querendo me chamar de idiota naquele momento.
- Acho que você já sabe.
- Eu... eu estou morto? - tinha medo de fazer auela pergunta,mas tinha mais medo da resposta.
- Bom... tecnicamente neste exato momento não, você não está... - ele fez uma pausa, parecia querer rir da minha cara - mas você estava ontem.
- Não estou entendo... como isso pode ser possível?
- Essa é uma pergunta que eu não sei responder garoto.
Uma onda de lembranças veio à tona em minha mente, uma avalanche de uma vez só. Minha casa, Gabriel, o sonho... o fogo.
- Onde estão meus pais?
Dessa vez ele não respondeu, ele simplismente abaixou a cabeça, eu saia o que isso queria dizer, se eu estava ali... meus pais... Olhei para mesa do meu lado, o corpo em cima dela, o corpo era familiar, aquele... aquele era meu pai. Levantei com dificuldade, me apoiei sobre minha perna direita, mas ela ainda não estava firmada, eu estava caindo. Antes que eu pudesse tocar o chão o garoto estava do meu lado, ele me levantou e me apoiou na mesa novamente. Ele não falava nada, parecia distante daquilo tudo, parecia não sentir absolutamente nada.
- Eu... eu preciso... preciso acordar meu pai.... - minha voz já estava embargada pelas lágrimas que eu lutava para manter presas.
- Ele não pode ser acordado, desculpe.
- Mas... mas eu acordei! - eu balançava minha cabeça freneticamente, meu chão estava indo embora novamente.
- Eu não sei comovocê acordou garoto, eu realmente acho que... que foi Ele. Mas isso não seria possível, Ele está morto.
Ele escolheu as palavras com cuidado, eu estava começando a reconhecer aqueles olhos, os olhos eram cinzentos como os de Gabriel, o arcanjo.
- Acho que você deveria se vestir primeiro.
- Me solta! - ele me largou e eu fui novamente de encontro ao chão, mas dessa vez ele não me segurou.
O chão estava frio, mas isso já não importava mais, nada mais importava, eu so precisava chegar até o meu pai, eu precisava... precisava acordá-lo. Enquanto isso o arcanjo continuava parado, ele parecia saber como eu estava me sentindo, parecia saber como era perder um pai. Me arrastei até onde meu pai estava, reuni todas as minhas forças para me erguer sobre a cama, precisava acordá-lo... precisava... precisava...
- Pai...
Algo foi crescendo na minha garganta, subindo com toda a força, algo que eu tentava controlar há muito tempo, um grito, uma lágrima, toda a minha raiva... minha dor.
Dessa vez eu não a contive... não dessa vez.
Continua.................................
segunda-feira, 17 de maio de 2010
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