quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Cap.43 - Closer to the Edge

- Os 144 mil? - Eu perguntei incrédulo.
Laura olhou pra mim e sorriu.
- Durante a batalha do apocalipse, 144 mil fiéis, seguidores de Cristo e sua causa serão arrebatados para a batalha, eles não poderão ser mortos ou feridos... É o que está escrito no seu livro de apocalipse. Esses são os 144 mil e as forças celestes que não se curvaram a Gabriel e seus propósitos sombrios.
O exército era formidável, com bandeiras tremulando ao vento, a luz que emanava deles parecia iluminar o céu encoberto pela escuridão. Formosos como a lua e brilhantes como o sol, assim eram os 144 mil servos da causa de Cristo, de várias nacionalidades, falando várias línguas e de várias idades, unidos de uma única forma.
À frente deles anjos, arcanjos, querubins e serafins, dispostos em filas, alguns a cavalo. No meio deles pude distinguir Vitor e Gustavo, liderando suas castas. Ao centro um cavaleiro reluzente cuja face eu não podia ver, seus pés brilhavam como o aço ao sol, tinha um cetro de ouro numa das mãos e uma espada na outra. Sua armadura era feita de ouro, nas costas pendia uma longa capa vermelha, ao lado dele vinha um cavaleiro portando uma bandeira: "Filho de Davi" e na coxa do cavaleiro estava escrito Rei dos Reis e Senhor dos Senhores.... Não podia ser, aquele, aquele... aquele era o Cristo.
A luz era tão forte e sua presença tão divina que fui obrigado a me curvar, mas nem assim consegui ver a face dele. Ao lado direito dele estava Miguel, o arcanjo liderando a primeira linha de batalha.
A primeira linha avançou por nós, mas Miguel permaneceu ao nosso lado, ainda montado em um cavalo. Os anjos sob seu comando continuaram avançando. Os demônios recuperados do choque inicial voltaram a atacar, mas dessa vez enfrentaram os anjos que os dilaceravam sem dó.
- Vocês estão bem? - Miguel perguntou
- Estamos, mas o Daniel está ferido. - Fernanda disse
Miguel apoiou a mão sobre meu ombro e pelos seus olhos pude ver que ele já sabia o que se passava.
- O que você vai fazer garoto? - Ele perguntou calmamente
- Vou continuar até o fim. - Disse sem nem tremer.
- Que seja assim então, ninguém aqui vai te impedir. - Ele falou olhando para as pessoas ao seu redor e desembainhou sua espada entregando a mim. - Você vai precisar disto.
Ele montou em seu cavalo novamente e mandou eu me juntar às fileiras sob o comando do Rei. Trouxe Laura e Fernanda para junto de si e avançou para a linha de frente. Ele não havia perguntado por Isa, mas eu sabia, ele tinha conhecimento da morte dela, mas uma batalha não é hora para lamentos.
Cheguei timidamente ao lado do Rei e tentei me manter de pé diante da presença dele e da dor que consumia meu peito me impedindo de respirar. Ele olhou em minha direção e pude ver que um sorriso se desenhava no seu rosto.
- Filho meu, vejo a tristeza que surge no seu rosto e a dor que brota na sua alma. Sei as perdas que sofreu e sei das que ainda vai sofrer - Ele falava como se também já visse o meu futuro - Não temas, não precisa chorar, Eu estou aqui, Eu vou levar a sua dor e te dar paz. Acredite eu nunca te deixei e eu jamais te abandonarei. E aliás.... Seu avô me pediu pra te dizer que te ama e tem orgulho de você, está orgulhoso por ter cumprido sua promessa.
Aquilo me impactou... meu avô, orgulhoso de mim? Eu havia cumprido minha promessa? Parecia que um peso havia sido tirado das minhas costas e a pressão no meu peito já não me incomodava tanto. A dor das mortes já não enchia meu coração, eu estava ali para fazer o que devia ser feito.
- Obrigado, Senhor.
Mas a chegada dos exércitos não foi exatamente a virada que era esperada. Lúcifer se recuperou do susto e sorriu novamente. Agitou seus braços e gritou:
- Venham meus cavaleiros!
E então da fenda no chão, em meio a fumaça negra que encobria todo o lugar 4 cavaleiros surgiram... Os cavaleiros do apocalipse, prontos para a destruição, prontos para acabar com tudo e todos em seu caminho.Mas ainda assim os anjos da linha de frente não recuaram, continuaram a avançar, os cavaleiros vieram ao seu encontro e eles não resistiram, uma legião inteira morta por 4 cavaleiros e seus demônios.
De um lado 4 cavaleiros e suas horas demoníacas lideradas por Lúcifer que afrouxava cada vez mais suas correntes. Do outro o exército de anjos e servos de Cristo, liderados pelo Próprio. Aquela era a batalha do apocalipse. O Senhor levantou sua espada e apontou na direção de Lúcifer, nesse exato instante as correntes se afrouxaram ao máximo e ele se libertou.
Lúcifer sorriu e abriu suas asas, finalmente estava livre. Então tirou sua espada da bainha e bradou aos seus cavaleiros e demônios, estes avançaram ferozmente e foram encontrar a segunda linha de anjos prontos para o combate, lideradas por Miguel. Os cavaleiros avançaram e contra eles se levantaram os serafins.
Mas o Diabo permaneceu estático, sem mover nem mesmo um dedo. Jesus, do outro também permanecia do mesmo modo, os olhares se cruzavam, esperando, esperando quem desferiria o primeiro golpe. Levantei a espada e me preparei para atacar mas o Senhor me parou.
- Espera, ainda não é o momento.
Miguel tirou uma segunda espada de sua bainha e a apontou para o cavaleiro da guerra, era assim que começava a batalha final.















Continua..........................................................

Cap.42 - Chasing Cars

É impossível não dizer que naquele momento um frio bem humano, bem mortal passava pela minha espinha, era o medo, medo da morte, medo da luta, não sei bem.A única coisa que sei é eu sentia medo.
O cenário diante de mim não era nada animador, carros queimados e abandonados ao longo da avenida. No centro, todo o asfalto havia sido destruído e agora um grande lago de fogo parecia brotar do chão e espalhar a lava por todos os cantos, eu ainda podia ver alguns corpos jogados nos cantos das ruas, imagens de terror fixavam-se nos rostos agora já sem vida. Parece que haviam se passado anos desde de que eu estivera ali pela última vez, nem mesmo parecia a Avenida da noite anterior.
Eu estava apoiado em Laura e Fernanda, mas o corte no meu peito já cicatrizava, parecia deixar apenas uma grande cicatriz. Mas me sentia diferente agora, sentia como se meu corpo por dentro estivesse morrendo, aos poucos e agora cada vez mais rápido... Era a rejeição, um mortal não poderia ter a essência de um anjo, meu corpo rejeitava isso, porque quanto mais eu usava do seu poder, mais ele atuava como um veneno em mim e em breve já não haveria como voltar.
- Você está bem Daniel? - Fernanda perguntou tirando meu braço do redor do sue pescoço, para ver se eu já conseguia me apoiar. Eu não poderia demonstrar fraqueza agora, não agora.
- Estou sim. - Apoiei meu peso sobre as pernas e pra minha sorte elas responderam positivamente, mas erguer a espada novamente seria mais difícil.
- Ainda consegue lutar garoto? A luta que ainda está por vir não é nada comparada a que acabou de acontecer. Você está pronto?
Fechei as mãos e abri as asas, quase instintivamente.
-Estou ótimo, vamos terminar isso.
Ao longe havia u grande pedestal de pedra, tão antigo quanto a fundação do mundo, em cima dele erguiam-se duas grandes colunas de pedra, dela saíam correntes que prendiam pelos pulsos e pelas pernas um ser que de longe poderia parecer tão humano e mortal quanto qualquer outro, mas que na verdade não era. Lúcifer assumiu sua forma humana e escondeu assim o monstro que realmente era. Ele trajava uma armadura de batalha completa, que reluzia como o ouro. Das suas costas saíam um par de asas como de morcego, negras como a noite, de longe eu podia sentir uma forte opressão, uma angústia, características do senhor das trevas.
Ele pareceu olhar diretamente pra mim e sorriu, balançou os braços e as colunas tremeram, não iriam aguentar por muito tempo.
- Você deve ser o mortal responsável por tudo isso? - Ele disse, sua voz era tranquila e profunda, como se estivéssemos conversando em um bar como velhos amigos.
- Sim.
- Não tenha medo garoto, eu não vou te fazer mal.
- Não tenho medo.
- Não? Olhe, eu já conheço este mundo há muito tempo, muito antes do surgimento desse planetinha e de vocês: bonecos de barro. Mas apesar do que dizem por aí, não sou tão mal quanto pareço, antes de tudo começar vou te dar uma chance. Junte-se a mim, junte-se ao lado vencedor e eu pouparei sua vida, lute por mim e e lutarei por você.
- Por que você acha que eu abandonaria meus amigos agora?
- Talvez tenha recuperado a razão.
- Não sou como você Lúcifer, não traio meus amigos, não traio meus irmãos.
- Traição? Eu não traí eles, foi por amor a eles que fiz o que fiz, foi por amor a eles que eu desafiei meu pai, pra que eles vissem que nós, os anjos, os arcanjos, os querubins serafins e toda horda celestial não devemos nos curvar a macacos que sabem falar, mas dominá-los, nós merecemos todo o amor! Não vocês bonequinhos! - Sua voz mudou, sua aparência também, a sua aura de ódio e desespero já emanava por todo o lugar.
- Eu rejeito a sua oferta e quando tudo acabar eu vou destruir você e lançar você no lago de fogo que nunca deveria ter escapado.
Uma risada demoníaca ecoou por todo o lugar, senti o medo apertar meu coração. Lúcifer ergueu as mãos e a fenda abriu-se ainda mais. Dela saíram demônios e seres demoníacos de toda a espécie, eles pareciam ocupar as ruas, o chão e alguns até mesmo voavam, pareciam insetos ocupando todo o lugar, um exército brotava bem na minha frente, um exército de monstros que não conhecia a misericórdia e que não seria parado por nada, criado apenas para matar e destruir.
- Sinto muito pela sua escolha mortal! Você será destruído como qualquer outro da sua espécie e eu pessoalmente vou torturar a sua alma, apenas para minha diversão pelos séculos dos séculos!
Recolhi minha espada no chão, se fosse para morrer, que seja lutando e matando demônios, porque não importa a minha dor, não importa o quão grande seja o exército, eu tenho uma promessa a cumprir e nada, nem mesmo todas as hordas do inferno poderão me parar.
Laura e Fernanda tomaram posições do meu lado.... essa seria uma boa hora para Miguel aparecer.
Os demônios avançaram, correndo desordenados, como cães raivosos à procura de sangue, eles viam correndo e nada os faria parar.
A primeira onda caiu sobre nós, mais de 300 demônios avançaram sem temer nada, eu apenas desviava e cortava seus corpos frágeis como papel, a lâmina da espada já estava machada, uma mistura do meu sangue, sangue de Gabriel e agora o que quer que seja de demônios.
Fernanda segurava uma maça, ela atacava lançando demônios a distancia, fazendo eles se chocarem contra as paredes enquanto Laura usava duas espadas, atacando dois a cada vez. Mesmo me sentindo fraco também dei conta de muitos, procurando não me forçar tanto.
Mais duas hordas caíram sobre nós e parecia que quanto mais matávamos mais eles pareciam surgir, estávamos exaustos e eu já não sabia por mais quanto tempo poderia suportar, a espada ficava cada vez mais pesada e eu já podia sentir meu coração pulsando descompassado dentro de mim.
Então quando toda a esperança parecia perdida eu pude ouvir passos ao fundo, passos que faziam tremer a terra, milhares e milhares de passos que pisavam ritmados o chão fazendo ele tremer, eles cantavam em coro canções de adoração a Deus... e pareciam pontos de luz caminhando ou flutuando em nossa direção.
Os demônios recuaram de volta para a fenda e até mesmo o Diabo deu um passo atrás, aquilo era algo que nem mesmo ele esperava.
- Os 144 mil e os celestiais. - Laura disse ofegante.


















Continua.......................................................................

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cap.41 - The heart, the soul, the life, the passion

Sabe a sensação de perder tudo o que é mais importante pra você? Sabe a sensação de que aquilo que você mais ama, aquilo pelo qual você daria sua vida simplesmente escapa dos seus dedos? Como se o peso do mundo se apoiasse cada vez mais sobre as suas costas e firmas as pernas já não fosse o suficiente, porque não importa o que você sinta ou pense, você sabe que no fim você não poderá vencer, que as cicatrizes ficarão sempre ali...
Poderia dizer que o que me movia agora eram sentimentos altruístas, sentimentos bons, sentimentos de paz, que uma promessa rondava na minha cabeça e que eu lutava por toda a humanidade... Mas eu estaria mentindo. Eu lutava por mim mesmo, com um único objetivo: Tirar do meu peito a dor que me consumia e dos meus ombros o peso que me afogava na minha dor. Não me importava mais viver ou morrer, o destino do mundo ou tudo o mais, eu só via um par de órbitas vazias a minha frente, um ex anjo que agora nada mais era que o próprio anticristo.
- Sim! Era isso que eu esperava ver Daniel... no final das contas você deve reconhecer que é igual a mim, luta por si mesmo, pra se livrar do que está dentro de você... você sabe disso. - Gabriel cortou meus pensamentos.
-Não sou igual a você Gabriel... não sou igual a você por um único motivo.
Ergui minhas asas me preparando para um segundo voo, meu punho tremia de tensão em volta do cabo da espada, era como se a espada e eu fôssemos um só agora. Ao me aproximar de Gabriel desenhei um arco no ar com a espada, mas Gabriel desviou do primeiro golpe levantando voo também, ele desceu sua espada sobre mim tentando me atingir minha cabeça, mas no exato instante levantei a espada e bloqueei o golpe, ele deixou seu peitoral desprotegido, o que foi o momento perfeito pra fechar minha mão e atingir ele num gole certeiro que o fez cuspir sangue, um soco tão potente que fez o anjo sombrio voar 10 metros para trás e aterrizar de cara no chão.
Ele levantou o rosto do chão, o pouco de carne que ainda restava agora estava arranhada pelo impacto, alguns ossos da face estavam quebrados e ele cuspia sangue pela boca, mas ainda assim se levantou e com ele sua espada, não seria assim tão fácil derrotar ele.
- E qual seria esse motivo, mortal? - Gabriel falou enquanto cuspia um pouco de sangue.
- O motivo, a diferença Gabriel, é que ao final dessa luta um de nós estará de é e o outro não se levantará mais. - Assumi posição novamente, a espada sobre minha cabeça com meus braços arqueados, enquanto as asas serviam de couraça.
Gabriel riu e também se posicionou, ele estava disposto ir até o fim, adorava um desafio, ainda mais um duelo com o garoto do fim do mundo.
- Largue sua espada, e curve-se diante de mim, seu novo Deus e eu pensarei em poupar sua vida... - Ele disse finalmente.
Foi a minha vez de sorrir, ele não poderia estar falando sério. Avancei na direção dele, a espada acima da cabeça pronta pra desferir um golpe. Ele montou guarda no instante em que a minha espada desceu sobre a cabeça dele, fazendo ele curvar os joelhos... Era isso, Gabriel estava ferido.
- Esperava que escolhesse isso, mortal. - Ele jogou o corpo sobre o meu me fazendo recuar e atacou, golpes seguidos, em minhas asas, tentando me fazer largar a espada, ele tinha me atraído até ele e eu havia caído na armadilha, não podia fazer nada a não ser desviar agora.
- Daniel! - Laura gritou em algum lugar atrás de mim, mas era tarde demais, a espada de Gabriel descia sobre mim pronta pra partir minha cabeça em duas partes. Me deixei cair no chão e ao invés de atingir minha cabeça a espada desceu traçando um corte no meu peito.
Me senti fraquejar, sangue e essência escorriam pelo meu corpo, me senti fraco e tudo a minha volta girou, a espada já estava longe e diante de mim um Anjo sombrio ria, pronto pra arrancar meu coração.
- Você está certo, somos diferentes Daniel... você vai perder por um simples motivo, porque eu sou seu oponente.
Ouvi o estalido de um arco ao fundo, Laura provavelmente se preparava pra atingir Gabriel com uma seta e Fernanda provavelmente se posicionava pra vir logo atrás, era a única chance delas, elas poderiam terminar aquilo ali. Mas não era assim que deveria terminar, eu não seria salvo novamente.
-Parem! - Eu gritei e o som se espalhou pelo lugar - Essa é a minha luta, não quero que vocês interfiram! Vocês não tem esse direito, se eu tiver que morrer, que seja aqui pelo meu mérito! - Eu bradei, mas não ouvi o arco ceder.
- Você está louco Daniel, não vamos deixar você morrer, isso é idiotice! - E ela esticou mais o arco.
Então Fernanda abaixou a espada e se colocou na frente do arco, o olhar estava distante, não ali, mas no passado, em lembranças que há muito tempo ela tentava esquecer.
- Deixe o Daniel lutar até o fim, não vamos interferir.
- Você tá louca? Ele vai morrer se não ajudarmos! Nós podemos morrer, ele não! - Laura gritou.
- Não é assim que ele pensa, deixe ele.
- O que você sabe sobre isso Fernanda? Vamos ajudá-lo!
Um silêncio quase fúnebre passou entre as duas... Então Fernanda olhou diretamente dentro dos olhos da Laura e poucas palavras foram necessárias.
- Porque quando eu estive no lugar dele eu gostaria que tivessem me deixado lutar, porque o peso de viver as custas da vida dos seus amigos é insuportável.
Laura baixou o arco enquanto Gabriel aplaudia o espetáculo.
- Isso é realmente muito bonito, lindo você não envolver suas amigas Daniel, mas depois que eu matar você, vou matar elas também... Humano estúpido! Você pode viver com dignidade e honra, mas jamais vai poder morrer com ela. É assim que você vai morrer, ajoelhado aos meus pés, não há honra nisso, idiota! - Ele levantou a espada pela última vez e a apontou em minha direção, o golpe final.
Imagens passaram cada vez mais rápidas na minha cabeça, amigos que se foram, família que eu jamais terei novamente, a dor da perda de cada um deles, as trevas que me dominavam agora, eu já não era o mesmo de 1 ano atrás, eu era diferente, eu era a dor e a escuridão e a luz jamais voltaria. Fechei o punho e concentrei toda a força que podia nele, toda a essência do meu ser e senti ela aquecer, senti a tensão dos músculos tremer a mão.
Gabriel baixou a espada em único golpe, eu só tive uma chance, joguei meu corpo todo pra frente e para o alto me apoiando nas minhas pernas fracas e em minhas asas dilaceradas, direcionei minha mão para o centro do peito dele, para o coração. Minha mão atravessou a carne como se fosse isopor, e eu abri a mão instintivamente, senti ago pulsante entre meus dedos, agarrei e o trouxe em minha direção, rompendo artérias e veias... O coração do anjo sombrio, tão frágil como o do que qualquer humano, fechei a mão novamente e ele foi despedaçado.
O anjo ajoelhou na minha frente, nas órbitas já não haviam chamas, apenas uma expressão de incredulidade e terror... Ele havia sido derrotado.
- O... que... - Foram suas únicas palavras enquanto o corpo tombava pra trás já se vida ou essência.
Me levantei lentamente enquanto o enxofre do ar esfarelava os ossos do anjo caído. O chão então tremeu forte, de modo que só não caí novamente porque Laura e Fernanda surgiram ao meu lado para me apoiar. Pedras caíam do teto e uma luz tênue invadia o lugar... a luz do sol.
Ao fundo o som de correntes sendo rompidas, rangiam terrivelmente e uma risda demoníaca como eu nunca havia ouvido antes me fez gelar a espinha... Lúcifer.
O chão elevou-se até o teto onde surgimos no meio da avenida Rio Branco... carros abandonados e pessoas correndo para todos os lados, uma nuvem negra ameaçava desabar do céu sobre a terra. Ao fundo erguia-se uma rampa e um grande altar de pedra... Nele um ser monstruoso estava preso a correntes que pareciam cada vez mais frágeis... O arcanjo sombrio, Lúcifer.
Essa era a batalha final, o dia do juízo final...















Continua...............................................

domingo, 6 de março de 2011

Cap.40 - My Turn

Os olhos de Isa foram se fechando devagar diante de mim, eu podia sentir a vida dela fluindo pelo ferimento... como se sua alma estivesse sendo levada. Parecia que nada mais ocorria a minha volta, não havia mais Laura, Fernanda, Gabriel, Inferno, Céu, Apocalipse... tudo se resumia àquele momento. Então ela se foi, fechou os olhos e senti seu corpo relaxar sobre meus braços, Isa estava morta.
Fui voltando gradativamente à realidade, as imagens se agitavam à minha volta, Laura e Fernanda corriam em minha direção enquanto Gabriel recuava um passo. Levantei o rosto na direção dele e não pude conter as minhas lágrimas... Por que? Por que tudo aquilo tinha que acontecer? Olhei para o Gabriel e por um momento pensei em desistir, pensei em quebrar minha promessa...
Uma risada cruel ecoou na minha mente. Gabriel estampava um sorriso cruel em seu rosto enquanto erguia novamente sua espada.
- Ops... Acho que errei, mas não faz tanta diferença faz? Mais um anjo, menos um anjo... Eu não vou sentir falta, mas creio que você sim, certo mortal? Vou fazer um favor a você e não errarei o próximo golpe. - Ele gargalhava enquanto levantava sua espada, seus olhos estavam cravados em mim e um brilho negro voltou a surgir neles, já não havia mais nada de angelical em Gabriel.
Abracei Isa forte contra meu corpo, estávamos tão perto mas ainda assim tão longe... Sentia a lâmina de Gabriel apontada para a minha cabeça. A dor na minha alma era insuportável, um grande vazio surgia dentro de mim e me consumia e eu já não podia fazer mais nada além de me afogar... Lembrei do que Miguel me disse uma vez:
"-Você deve ser forte para encontrar o caminho de volta, ou o que está dentro de você, o meu poder irá te consumir"
Eu jurei a mim mesmo que lutaria, que encontraria o caminho de volta... Mas de que adiantava isso agora? Eu tentei proteger meus amigos, minha família e de que adiantou? Eles estavam sendo tirados de mim um a um. Eu estava falhando miseravelmente, mas não mais, não mais. Era hora de eu me perder, me afogar, porque somente assim conseguiria salvar os meus amigos...
Levantei o olhar na direção de Gabriel e ele viu algo dentro deles... Gabriel abaixou sua espada e recuou, senti meu corpo tremer, meus olhos queimava e parecia que tudo a minha volta estava ficando mais claro... Minha consciência, aquilo que eu realmente era estava se perdendo, se afogando lentamente. Abracei mais forte a Isa e abri a boca... um grito gutural brotou do fundo do meu ser, do fundo da minha alma, toda a minha dor...
A terra tremeu e todos a minha volta foram lançados para trás, Laura e Fernanda forma jogadas a mais de cinco metros de onde eu estava e Gabriel teve que fincar sua espada no chão para não ser lançado. Senti minhas costas sendo rasgadas, meu suor se misturando ao meu sangue... Algo dentro de mim parecia rasgar minha carne e sair das minhas costas... Eram... Eram asas.
Duas asas com mais de 1 metro de comprimento surgiam nas minhas costas, forçavam sua passagem entre meus ossos... E quando finalmente saíram completamente foram abertas, era como se uma águia gigante tivesse se preparando para levantar voo.
Fiquei de pé enquanto minha consciência era presa, trancada no fundo do meu ser, eu podia ver, podia sentir mas já não tinha mais o controle sobre o meu corpo, era como se o poder dentro de mim assumisse o comando, como se ele decidisse o caminho a tomar... Meus olhos brilhavam tanto que pareciam estar em chamas, meus músculos estavam contraídos e agora minhas costas nuas exibiam um par de asas abertas prontas a varrer tudo a minha volta.
Minha cabeça girou levemente e pude ver o corpo inerte de Isa no chão... o ódio brotou dentro de mim, um ódio que eu nunca havia sentido antes...
- Daniel... Não! - A voz de Laura ecoava ao longe, eu não podia fazer nada, já não tinha mais controle sobre o meu corpo.
Ela tentava vir em minha direção, mas Fernanda a impedia. Ela sabia que aquilo que estava na frente dela já não era mais eu... era diferente, era algo além... O que estava na frente dela era um arcanjo, um arcanjo ancestral, como se algo dentro de mim tivesse sido despertado.
Ao mesmo tempo que sentia minha consciência sendo presa, também sentia minha força vital escapando por entre meus dedos, eu não sobreviveria muito mais depois daquilo... Foi então que ouvi, uma voz como a de um trovão ecoando na minha mente:
- Daniel... - A voz dizia - Eu sou Daniel, arcanjo da primeira classe, eu sou o motivo de você estar aqui. Eu poderia simplesmente tomar o controle sobre o seu corpo, e tomar minhas decisões sobre o rumo disso tudo, mas creio que não seria justo. Foi a sua espécie que Meu Pai criou e chamou de sua semelhança, então deve haver algo em vocês que os torna diferentes de nós anjos, algo que dá a vocês todo o amor que Meu Pai vos dá. Essa luta não é mais minha, eu não tenho o direito de conduzi-la, você tem amigos para salvar, então seja sábio o suficiente para fazer isso. Não se deixe dominar, não temas, não recue, o Meu Pai está com você até a consumação dos séculos...
Então a voz explodiu na minha mente e eu voltei a ter consciência de mim, voltei a ter o controle, mas o poder ainda emanava de mim, meus olhos ainda queimavam... Eu era um anjo, não por muito tempo, mas um anjo.
Gabriel olhava para mim atônito, eu podia sentir o medo brotando dentro dele, podia sentir sua necessidade de fugir, seu terror... Mas ele se recompôs aos poucos e empunhou sua espada, ainda vacilante na minha direção.
Peguei a espada de Isa no chão e levantei devagar, sem desviar o olhar do rosto de Gabriel, podia ouvir seus pensamentos, sentir tudo a minha volta....
- Gabriel... Você vai morrer hoje e aqui, e eu pessoalmente vou aprisionar sua alma ao lado de Lúcifer.
- Gostaria de ver você tentar Daniel... Você me surpreendeu, mas não ache que só porque tem algo a mais podera me vencer, não se esqueça eu já caminho por este mundo há muito tempo. Eu conheço você e conheço sua fraqueza, voce morre hoje.
Ele estendeu suas asas consumidas pelas chamas do inferno, e veio em minha direção novamente...















Continua..............................................

sábado, 5 de março de 2011

Cap.39 - She is

Narrado por Isadora, serafim que coordena a adoração direta ao trono do Deus Todo-Poderoso
"Laura, Fernanda e eu estávamos presas naquela jaula e por mais que tentássemos escapar ou quebrá-la de nada adiantava. A jaula era sólida e firme, mas não era de ferro, pois nenhum material que existia no mundo humano, nem mesmo o diamante, seria capaz de suportar o peso da espada de um anjo. Que dirá de duas das minhas espadas...
Enquanto isso Daniel, nosso protegido, estava ajoelhado a poucos metros de nós e o cavaleiro da Morte se afastava dele sem nem mesmo tê-lo tocado. Ela era a Morte, para não tirar a vida dele naquele exato momento é porque uma força muito maior, um poder muito além do dela havia ordenado que não se tocasse em um fio de cabelo sequer daquele garoto... e só havia um poder capaz disso: Meu Pai.
Eu conheci Daniel há quase um ano, encontrei-o pela primeira vez quando fomos enfrentar juntos o cavaleiro da Guerra. Naquele dia estava ali apenas como um anjo que se rebelou contra as forças celestiais de Miguel e de Gabriel e que em uma tentativa desesperada de cumprir as ordens de um Pai que havia desaparecido me uni a mais quatro anjos rebeldes... Mas desde de aquele dia tudo havia mudado.
Aquele simples mortal havia me ensinado tantas coisas, havia me ensinado que ainda se pode ter fé nos humanos, que se pode criar laços, que pode haver amizade e amor entre os seres humanos... De certa forma entendi por que Deus o havia escolhido, dentre todos os outros... Esse humano tinha defeitos dignos de um castigo terrível: orgulho, crueldade, egoísmo; mas ainda assim ele era capaz de dar sua própria vida pelos seus amigos. E é por ser amiga dele que neste exato momento eu tento quebrar essa jaula que me cerca.
Me lembrava das últimas palavras que Deus havia me dito:
'-Isa, você deve protegê-lo, ele pode ensinar muita coisa a você e principalmente pode aprender muita coisa. Ele está destinado a coisas grandes...
-Mas Senhor... Ele é só um mortal e eu já existo desde a criação do mundo humano... creio que já sei o suficiente sobre eles e não há nada que valha a pena aprender com eles.
-Você está errada... a minha misericórdia e o meu amor se renovam todos os dias, porque há algo de bom neles e é esse algo que eu quero mostrar a você.'
Eu devia protegê-lo, ainda que isso custasse a minha vida, eu deveria protegê-lo, pois aprendia amar aquele ser humano, um amor ágape, um amor fraternal, agora sabia do que Deus estava falando... Ele falava de amor, de amar os humanos como Ele os ama, de ter fé neles também... Então vi Gabriel correndo na direção de Daniel que ainda estava caído no chão.
Gabriel estava com sua espada longa em mãos e ela exibia um intenso brilho vermelho, como se a própria espada clamasse por sangue. O corpo deformado de Gabriel executava movimentos precisos e perfeitos... movimentos de um anjo, os melhores guerreiros que poderiam existir. As chamas que saíam do rosto de Gabriel deixavam um rastro no ar... e Daniel não poderia bloquear um golpe dele naquele estado, nem em sue melhor estado poderia bloquear aquele golpe de Gabriel.
Eu precisava tirá-lo daí, Fernanda e Laura estavam tão desesperadas quanto eu, mas só havia uma coisa a fazer... Dar vazão à toda graça que havia em mim, explodir de glória, da glória de Deus. Fechei os olhos e orei baixinho...'Pai, dá-me forças para cumprir a tua vontade'
Senti um poder diferente explodindo por todo o meu corpo, meus olhos começaram a brilhar e depois a emitir chamas, senti meu corpo em chamas, mas elas não me queimavam, era como se o próprio Deus estivesse ali... E essas chamas foram inundando a cela até que toda ela se iluminou e não se conteve. A cela agora já não mais existia, mas Gabriel já estava muito perto de Daniel, a ponta de sua espada se aproximava lentamente da cabeça dele. O mundo parecia ter parado de girar e tudo estava em câmera lenta... mas a ponta da espada ainda se aproximava de Daniel, o olhar de ódio de Gabriel cravava seu rosto em sulcos.
Quando a lâmina encostou no pescoço de Daniel consegui interromper seu trajeto do único modo que podia... Senti a lâmina de Gabriel penetrando meu corpo, me queimando... e então veio a dor, a dor de estar sendo rasgada, a dor de sentir minha glória sendo separa do meu corpo.
Daniel caiu de lado girando sua cabeça lentamente na minha direção... Seu olhar era assustado, seu rosto estava empapado em suor e... sangue, meu sangue. Tentei sorrir, tentei ser forte, mas não pude. Meu corpo caía lentamente em direção ao chão, o cenário girando ao meu redor, a vida fluindo dentro da minha mente, senti então um par de mãos que me apoiavam, as mãos de Daniel que tentavam inutilmente minha queda.
Senti medo, senti frio, senti dor. Irônico não?Toda a minha glória e minha postura angelical de nada serviram porque no final o que eu sentia era tão humano, tão mortal, tão simples... A imagem e semelhança do Criador. Meu corpo tocou o chão quente e molhado pelo meu sangue e pelo suor de Daniel, um amigo, um irmão, um humano que realmente me ensinou muita coisa. Alguns humanos dizem que o importante na sua vida não é o que você faz durante toda sua vida, mas o que você faz enquanto morre, o que é importante pra você. Talvez haja algum sentido nisso, tentei ser racional, mas já não havia mais nada que eu podia fazer... Só tentar sorrir.
Então a escuridão começou a surgir em minha volta, senti meu corpo ficando cada vez mais pesado sobre as mãos de Daniel, ele me apertava contra ele, mas ele já não podia fazer nada.
Senti a leveza dentro de mim, fluindo para algum lugar bem distante... minha alma, um presente do meu Pai, o que me permitiu sentir... Agora entendia porque o livre arbítrio dos humanos era tão diferente e tão especial, eles realmente sentiam. Meus olhos foram se fechando e a escuridão deu lugar a luz, uma mão veio em minha direção e uma voz como o um som de trovão ecoou dentro de mim: '-Estava esperando por você filha... Bem vinda'
Então já não havia mais nada ao meu redor, mas eu ainda precisava dizer uma coisa ao Daniel...
- Daniel... me prometa que não vai desistir, me prometa que vai lutar e que não vai se deixar abater por nada...
- Eu... Eu prometo. - Ele dizia entre lágrimas
- Obrigada por tudo... Eu amo você, irmãozinho.
- Eu te amo irmãzinha...
Agora já não havia mais nada, a mão do Meu Pai levava minha alma para bem longe dali, bem longe de tudo, me levava para junto dele... Sombras começaram se formar no lugar onde antes eu estava... Então uma delas começou a brilhar intensamente, uma luz forte que emanava poder, como se um pedaço do poder máximo de Deus estivesse surgindo ali... Reconheci um rosto... Era Daniel, mas não por muito tempo."














Continua.................................................................................................

quinta-feira, 3 de março de 2011

Cap.38 - I caught fire (in your eyes)

O suor escorria pelo meu rosto e pelas minhas costas nuas, sentia o enxofre impregnando minha pele e minhas narinas queimavam. Meu coração batia tão rápido que achei que ele fosse sair pela minha boca, meus pulmões puxavam o ar desesperadamente mas nada encontravam.
A escuridão à minha volta se mexia, parecia se contorcer, tentar fugir do que vinha em minha direção... Passos largos, decididos, suaves, negros... A Morte. Ele caminhava com calma, olhava na minha direção e parecia poder saber todos os efeitos que usar a graça de Miguel causou no meu corpo, parecia ver que eu estava morrendo aos poucos, lentamente. Ele chegou perto e se agachou na minha frente, sorria não de uma forma ameaçadora, mas como se soubesse que aquilo iria acontecer.
- Bem bem... Acho que você sabia que isso iria acontecer certo. Tenho certeza de que Miguel avisou você.
Tentava emitir algum som de resposta mas a unica coisa que saía da minha boca eram aspirações ofegantes, uma dor parecia surgir no lugar do ferimento e irradiar-se pelo meu corpo... insuportável.
- Vou tomar isso como um sim... Você sabe que eu poderia matar você e seus amigos agora não sabe? Seria tão fácil e tão simples.... mas eu também recebo ordens, devo cumprir planos. E nesses planos, segundo essas ordens não devo levar você agora, ainda bem pois não era minha intenção...
Gabriel, ou o que Gabriel se tornara olhava fixamente para onde eu e a Morte estávamos, mas sua audição sobrehumana não era capaz de ouvir sobre o que falávamos, isso o espantou. Ele confiava na Morte e só queria que ela me matasse logo, queria estar livre de mim... eu o causava medo. E você só teme aquilo que sabe que pode derrotar você.
Mas até mesmo Gabriel começou a perceber que aquela conversa demorava demais, ele começou a ficar vacilante e sua mão escorregou e agarrou fortemente a ponta da sua espada na bainha.
Então o inesperado para Gabriel aconteceu... A Morte se levantou e foi caminhando na direção dele enquanto eu ofegava no chão.
- Mate ele agora Morte! É uma ordem! - Ele se desesperou
- Não recebo ordens de você, um insignificante anjo rebelde. - disse a Morte sem alterar o tom de voz.
Então no exato momento em que Gabriel puxou sua espada e tentou acertar o cavaleiro da morte, ele se desfez em fumaça para reaparecer atrás de Gabriel.
- Não tente nunca mais levantar uma espada contra mim Gabriel, pois eu ignoro todas as regras e mato você, levo você para as masmorras e terei o prazer de torturá-lo por toda a eternidade.
Gabriel se soltou e olhou furioso para a Morte, mas nada podia fazer, ele sabia o que aconteceria se tentasse matar a Morte.
- Ele é problema seu e não meu Gabriel. Se ele deve morrer pelas mãos de alguém não será pelas minhas, meu dever com ele só se iniciará mais tarde, essas são as ordens.
- Ordens de quem????
- Do Seu Pai.
Simplismente disse isso e desapareceu, tornou-se uma nuvem negra e desapareceu deixando Gabriel perplexo, assustado e com mais medo do que nunca, foi então que ele tomou a única decisão que poderia tomar naquele momento.... correu na minha direção disposto a me matar.














Continua........................................................

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Cap.37 - I´m the Highway

Bélfegor veio correndo na minha direção e as lembranças foram voltando aos poucos na minha mente, como uma enxurrada... Ele havia matado Ana e Karol, havia me torturado, havia matado a protegida de Luciano... E agora eu tinha a chance de me vingar por todos aqueles que agora já não estavam mais aqui, aqueles que jamais poderiam lutar novamente.
Senti meus olhos queimarem, minha pele ficando clara como a neve, uma explosão surgindo dentro de mim, meus músculos ficaram rígidos e senti que o ferimento no meu braço havia desaparecido... Coloquei a mão na espada em minha cintura e foi como se eu e ela tivéssemos nos tornado um... Ela se alongou, adquiriu um forte tom de bronze, mas ainda assim era leve como uma pena. Levantei a bem devagar e apontei para Bélfegor... sentia o poder de Miguel fluindo através da minha alma, a graça do arcanjo mias poderoso, meu dom e minha maldição.
- Você é meu Bélfegor, eu vou arrancar sua cabeça novamente do seu corpo e dessa vez ela não vai voltar ao lugar. - Percebi que minha voz soava como um trovão.
Bélfegor parou e olhou para mim um tanto surpreso... Ele sabia que eu já não era mais simplesmente um humano. Ele riu.
- Devia ter percebido no momento em que percebi que você estava aqui... Miguel não foi? Você sabe o quão fácil você tornou as coisas? Ainda que eu não mate você agora, a graça de Miguel vai consumir você lentamente enquanto você absorve o poder dela. Muito melhor do que eu jamais imaginei.... Depois me diga uma coisa: valerá a pena morrer por esses mortais tão idiotas? Durante mais de sete mil anos Deus deu a eles chances após chances... Os perdoou em cada falha, cada erro, Ele enviou o próprio Filho. E o que aconteceu? Eles o torturaram e o mataram, fizeram Dele chacota e voltaram aos seus mesmos erros. E agora quando finalmente o fim se aproxima, vocês tentam fugir se agarrando a cada ponta solta de esperança por mais que essa esperança vá se desfazer no ar... Pelo que você luta? - Ele perguntou
- Eu posso morrer aqui e posso morrer lentamente fazendo de cada respiração angustiante... Mas um dia Deus acreditou na humanidade, Ele viu algo de bom em nós e até mesmo agora Ele nos dá a chance de mudar, de nos arrepender de nossos maus caminho e voltarmos para Ele. Não somos todos iguais, podemos ser melhores, ainda há pessoa pelo mundo inteiro que ajudam outras, que dão as suas vidas, sacrificam a si mesmas... É por essas pessoas que eu morrerei, é por amor, um amor ágape, um amor divino... Um amor que você jamais irá conhecer.
Bélfegor reassumiu o olhar demoníaco e voltou a andar na minha direção a passos largos, decididos e pesados, passos de quem está preste a matar... E eu continuei ali com a espada em punho como quem está pronto para morrer.
O primeiro golpe me pegou de surpresa, a espada dele estava presa no pulso dele por uma corrente então antes do que eu esperava percebi a lâmina vindo na minha direção. Desviei por muito pouco e perdi o equilíbrio então percebi que a lâmina vinha novamente e dessa vez ela não erraria o alvo. Só havia um jeito de pará-la, um jeito nada legal.
Coloquei minha perna que estava no ar de volta no chão e voltei a minha posição de equilíbrio. ficando de frente para a lâmina de Bélfegor...
- Daniel! - Isa gritou, mas sua voz ecoou no vazio enquanto a lâmina de Bélfegor cortava a minha carne.
A espada atravessou minha lateral esquerda, perfurando alguns órgãos que caso eu fosse somente um humano seriam vitais... Mas ainda assim acho que eles seriam necessários depois, até porque ainda era um humano.
Bélfegor sorriu, ele havia pensado que aquela era sua revanche, sua chance de ganhar de mim. Ele puxou a corrente para si como da primeira vez e me fez tirar os pés do chão voando em sua direção. Como um corpo inerte, mas era exatamente aquilo que eu queria. Pouco antes de chegar perto dele, suportando a dor da lâmina até os meus limites, segurei minha espada com firmeza e a cravei em seu peito pouco antes de aterrizar em cima dele e cravar o corpo dele no chão com a minha lâmina.
Ele olhou para mim assustado, não esperava por aquele golpe. Ele estava preso agora, e eu ia matá-lo....
- Essa é pelo Luciano... - Meu punho desceu pesado sobre o rosto dele, fazendo sua aura negra ficar mias fraca - Essa é pela Ana... Essa é pela Karol... e Essa seu babaca é por mim! - Quando em dei conta meu punho brilhava como a mão da Isa quando ela destruiu a Ana.
Coloquei minha mão na testa dele e olhei fundo dentro das órbitas vermelhas dele... Eu as veria pela última vez. Então seu corpo começou a tremer, seus olhos foram tomados por chamas intensas, e de repente ele começou a queimar, e tornou-se cinzas.
Me levantei do punhado de cinzas que agora jazia no chão. Puxei a lâmina de Bélfegor que ainda estava presa em mim, a dor já era insuportável. O sangue escorria livremente pela minha bariga e formava uma poça no chão, mas de repente algo aconteceu. O ferimento cicatrizou e o sangue parou de fluir... mas ao mesmo tempo me senti fraco e minhas pernas ficaram bambas, ouvi passos se aproximando de mim, passos negros... Os passo da Morte.









Continua........................................