domingo, 6 de março de 2011

Cap.40 - My Turn

Os olhos de Isa foram se fechando devagar diante de mim, eu podia sentir a vida dela fluindo pelo ferimento... como se sua alma estivesse sendo levada. Parecia que nada mais ocorria a minha volta, não havia mais Laura, Fernanda, Gabriel, Inferno, Céu, Apocalipse... tudo se resumia àquele momento. Então ela se foi, fechou os olhos e senti seu corpo relaxar sobre meus braços, Isa estava morta.
Fui voltando gradativamente à realidade, as imagens se agitavam à minha volta, Laura e Fernanda corriam em minha direção enquanto Gabriel recuava um passo. Levantei o rosto na direção dele e não pude conter as minhas lágrimas... Por que? Por que tudo aquilo tinha que acontecer? Olhei para o Gabriel e por um momento pensei em desistir, pensei em quebrar minha promessa...
Uma risada cruel ecoou na minha mente. Gabriel estampava um sorriso cruel em seu rosto enquanto erguia novamente sua espada.
- Ops... Acho que errei, mas não faz tanta diferença faz? Mais um anjo, menos um anjo... Eu não vou sentir falta, mas creio que você sim, certo mortal? Vou fazer um favor a você e não errarei o próximo golpe. - Ele gargalhava enquanto levantava sua espada, seus olhos estavam cravados em mim e um brilho negro voltou a surgir neles, já não havia mais nada de angelical em Gabriel.
Abracei Isa forte contra meu corpo, estávamos tão perto mas ainda assim tão longe... Sentia a lâmina de Gabriel apontada para a minha cabeça. A dor na minha alma era insuportável, um grande vazio surgia dentro de mim e me consumia e eu já não podia fazer mais nada além de me afogar... Lembrei do que Miguel me disse uma vez:
"-Você deve ser forte para encontrar o caminho de volta, ou o que está dentro de você, o meu poder irá te consumir"
Eu jurei a mim mesmo que lutaria, que encontraria o caminho de volta... Mas de que adiantava isso agora? Eu tentei proteger meus amigos, minha família e de que adiantou? Eles estavam sendo tirados de mim um a um. Eu estava falhando miseravelmente, mas não mais, não mais. Era hora de eu me perder, me afogar, porque somente assim conseguiria salvar os meus amigos...
Levantei o olhar na direção de Gabriel e ele viu algo dentro deles... Gabriel abaixou sua espada e recuou, senti meu corpo tremer, meus olhos queimava e parecia que tudo a minha volta estava ficando mais claro... Minha consciência, aquilo que eu realmente era estava se perdendo, se afogando lentamente. Abracei mais forte a Isa e abri a boca... um grito gutural brotou do fundo do meu ser, do fundo da minha alma, toda a minha dor...
A terra tremeu e todos a minha volta foram lançados para trás, Laura e Fernanda forma jogadas a mais de cinco metros de onde eu estava e Gabriel teve que fincar sua espada no chão para não ser lançado. Senti minhas costas sendo rasgadas, meu suor se misturando ao meu sangue... Algo dentro de mim parecia rasgar minha carne e sair das minhas costas... Eram... Eram asas.
Duas asas com mais de 1 metro de comprimento surgiam nas minhas costas, forçavam sua passagem entre meus ossos... E quando finalmente saíram completamente foram abertas, era como se uma águia gigante tivesse se preparando para levantar voo.
Fiquei de pé enquanto minha consciência era presa, trancada no fundo do meu ser, eu podia ver, podia sentir mas já não tinha mais o controle sobre o meu corpo, era como se o poder dentro de mim assumisse o comando, como se ele decidisse o caminho a tomar... Meus olhos brilhavam tanto que pareciam estar em chamas, meus músculos estavam contraídos e agora minhas costas nuas exibiam um par de asas abertas prontas a varrer tudo a minha volta.
Minha cabeça girou levemente e pude ver o corpo inerte de Isa no chão... o ódio brotou dentro de mim, um ódio que eu nunca havia sentido antes...
- Daniel... Não! - A voz de Laura ecoava ao longe, eu não podia fazer nada, já não tinha mais controle sobre o meu corpo.
Ela tentava vir em minha direção, mas Fernanda a impedia. Ela sabia que aquilo que estava na frente dela já não era mais eu... era diferente, era algo além... O que estava na frente dela era um arcanjo, um arcanjo ancestral, como se algo dentro de mim tivesse sido despertado.
Ao mesmo tempo que sentia minha consciência sendo presa, também sentia minha força vital escapando por entre meus dedos, eu não sobreviveria muito mais depois daquilo... Foi então que ouvi, uma voz como a de um trovão ecoando na minha mente:
- Daniel... - A voz dizia - Eu sou Daniel, arcanjo da primeira classe, eu sou o motivo de você estar aqui. Eu poderia simplesmente tomar o controle sobre o seu corpo, e tomar minhas decisões sobre o rumo disso tudo, mas creio que não seria justo. Foi a sua espécie que Meu Pai criou e chamou de sua semelhança, então deve haver algo em vocês que os torna diferentes de nós anjos, algo que dá a vocês todo o amor que Meu Pai vos dá. Essa luta não é mais minha, eu não tenho o direito de conduzi-la, você tem amigos para salvar, então seja sábio o suficiente para fazer isso. Não se deixe dominar, não temas, não recue, o Meu Pai está com você até a consumação dos séculos...
Então a voz explodiu na minha mente e eu voltei a ter consciência de mim, voltei a ter o controle, mas o poder ainda emanava de mim, meus olhos ainda queimavam... Eu era um anjo, não por muito tempo, mas um anjo.
Gabriel olhava para mim atônito, eu podia sentir o medo brotando dentro dele, podia sentir sua necessidade de fugir, seu terror... Mas ele se recompôs aos poucos e empunhou sua espada, ainda vacilante na minha direção.
Peguei a espada de Isa no chão e levantei devagar, sem desviar o olhar do rosto de Gabriel, podia ouvir seus pensamentos, sentir tudo a minha volta....
- Gabriel... Você vai morrer hoje e aqui, e eu pessoalmente vou aprisionar sua alma ao lado de Lúcifer.
- Gostaria de ver você tentar Daniel... Você me surpreendeu, mas não ache que só porque tem algo a mais podera me vencer, não se esqueça eu já caminho por este mundo há muito tempo. Eu conheço você e conheço sua fraqueza, voce morre hoje.
Ele estendeu suas asas consumidas pelas chamas do inferno, e veio em minha direção novamente...















Continua..............................................

sábado, 5 de março de 2011

Cap.39 - She is

Narrado por Isadora, serafim que coordena a adoração direta ao trono do Deus Todo-Poderoso
"Laura, Fernanda e eu estávamos presas naquela jaula e por mais que tentássemos escapar ou quebrá-la de nada adiantava. A jaula era sólida e firme, mas não era de ferro, pois nenhum material que existia no mundo humano, nem mesmo o diamante, seria capaz de suportar o peso da espada de um anjo. Que dirá de duas das minhas espadas...
Enquanto isso Daniel, nosso protegido, estava ajoelhado a poucos metros de nós e o cavaleiro da Morte se afastava dele sem nem mesmo tê-lo tocado. Ela era a Morte, para não tirar a vida dele naquele exato momento é porque uma força muito maior, um poder muito além do dela havia ordenado que não se tocasse em um fio de cabelo sequer daquele garoto... e só havia um poder capaz disso: Meu Pai.
Eu conheci Daniel há quase um ano, encontrei-o pela primeira vez quando fomos enfrentar juntos o cavaleiro da Guerra. Naquele dia estava ali apenas como um anjo que se rebelou contra as forças celestiais de Miguel e de Gabriel e que em uma tentativa desesperada de cumprir as ordens de um Pai que havia desaparecido me uni a mais quatro anjos rebeldes... Mas desde de aquele dia tudo havia mudado.
Aquele simples mortal havia me ensinado tantas coisas, havia me ensinado que ainda se pode ter fé nos humanos, que se pode criar laços, que pode haver amizade e amor entre os seres humanos... De certa forma entendi por que Deus o havia escolhido, dentre todos os outros... Esse humano tinha defeitos dignos de um castigo terrível: orgulho, crueldade, egoísmo; mas ainda assim ele era capaz de dar sua própria vida pelos seus amigos. E é por ser amiga dele que neste exato momento eu tento quebrar essa jaula que me cerca.
Me lembrava das últimas palavras que Deus havia me dito:
'-Isa, você deve protegê-lo, ele pode ensinar muita coisa a você e principalmente pode aprender muita coisa. Ele está destinado a coisas grandes...
-Mas Senhor... Ele é só um mortal e eu já existo desde a criação do mundo humano... creio que já sei o suficiente sobre eles e não há nada que valha a pena aprender com eles.
-Você está errada... a minha misericórdia e o meu amor se renovam todos os dias, porque há algo de bom neles e é esse algo que eu quero mostrar a você.'
Eu devia protegê-lo, ainda que isso custasse a minha vida, eu deveria protegê-lo, pois aprendia amar aquele ser humano, um amor ágape, um amor fraternal, agora sabia do que Deus estava falando... Ele falava de amor, de amar os humanos como Ele os ama, de ter fé neles também... Então vi Gabriel correndo na direção de Daniel que ainda estava caído no chão.
Gabriel estava com sua espada longa em mãos e ela exibia um intenso brilho vermelho, como se a própria espada clamasse por sangue. O corpo deformado de Gabriel executava movimentos precisos e perfeitos... movimentos de um anjo, os melhores guerreiros que poderiam existir. As chamas que saíam do rosto de Gabriel deixavam um rastro no ar... e Daniel não poderia bloquear um golpe dele naquele estado, nem em sue melhor estado poderia bloquear aquele golpe de Gabriel.
Eu precisava tirá-lo daí, Fernanda e Laura estavam tão desesperadas quanto eu, mas só havia uma coisa a fazer... Dar vazão à toda graça que havia em mim, explodir de glória, da glória de Deus. Fechei os olhos e orei baixinho...'Pai, dá-me forças para cumprir a tua vontade'
Senti um poder diferente explodindo por todo o meu corpo, meus olhos começaram a brilhar e depois a emitir chamas, senti meu corpo em chamas, mas elas não me queimavam, era como se o próprio Deus estivesse ali... E essas chamas foram inundando a cela até que toda ela se iluminou e não se conteve. A cela agora já não mais existia, mas Gabriel já estava muito perto de Daniel, a ponta de sua espada se aproximava lentamente da cabeça dele. O mundo parecia ter parado de girar e tudo estava em câmera lenta... mas a ponta da espada ainda se aproximava de Daniel, o olhar de ódio de Gabriel cravava seu rosto em sulcos.
Quando a lâmina encostou no pescoço de Daniel consegui interromper seu trajeto do único modo que podia... Senti a lâmina de Gabriel penetrando meu corpo, me queimando... e então veio a dor, a dor de estar sendo rasgada, a dor de sentir minha glória sendo separa do meu corpo.
Daniel caiu de lado girando sua cabeça lentamente na minha direção... Seu olhar era assustado, seu rosto estava empapado em suor e... sangue, meu sangue. Tentei sorrir, tentei ser forte, mas não pude. Meu corpo caía lentamente em direção ao chão, o cenário girando ao meu redor, a vida fluindo dentro da minha mente, senti então um par de mãos que me apoiavam, as mãos de Daniel que tentavam inutilmente minha queda.
Senti medo, senti frio, senti dor. Irônico não?Toda a minha glória e minha postura angelical de nada serviram porque no final o que eu sentia era tão humano, tão mortal, tão simples... A imagem e semelhança do Criador. Meu corpo tocou o chão quente e molhado pelo meu sangue e pelo suor de Daniel, um amigo, um irmão, um humano que realmente me ensinou muita coisa. Alguns humanos dizem que o importante na sua vida não é o que você faz durante toda sua vida, mas o que você faz enquanto morre, o que é importante pra você. Talvez haja algum sentido nisso, tentei ser racional, mas já não havia mais nada que eu podia fazer... Só tentar sorrir.
Então a escuridão começou a surgir em minha volta, senti meu corpo ficando cada vez mais pesado sobre as mãos de Daniel, ele me apertava contra ele, mas ele já não podia fazer nada.
Senti a leveza dentro de mim, fluindo para algum lugar bem distante... minha alma, um presente do meu Pai, o que me permitiu sentir... Agora entendia porque o livre arbítrio dos humanos era tão diferente e tão especial, eles realmente sentiam. Meus olhos foram se fechando e a escuridão deu lugar a luz, uma mão veio em minha direção e uma voz como o um som de trovão ecoou dentro de mim: '-Estava esperando por você filha... Bem vinda'
Então já não havia mais nada ao meu redor, mas eu ainda precisava dizer uma coisa ao Daniel...
- Daniel... me prometa que não vai desistir, me prometa que vai lutar e que não vai se deixar abater por nada...
- Eu... Eu prometo. - Ele dizia entre lágrimas
- Obrigada por tudo... Eu amo você, irmãozinho.
- Eu te amo irmãzinha...
Agora já não havia mais nada, a mão do Meu Pai levava minha alma para bem longe dali, bem longe de tudo, me levava para junto dele... Sombras começaram se formar no lugar onde antes eu estava... Então uma delas começou a brilhar intensamente, uma luz forte que emanava poder, como se um pedaço do poder máximo de Deus estivesse surgindo ali... Reconheci um rosto... Era Daniel, mas não por muito tempo."














Continua.................................................................................................

quinta-feira, 3 de março de 2011

Cap.38 - I caught fire (in your eyes)

O suor escorria pelo meu rosto e pelas minhas costas nuas, sentia o enxofre impregnando minha pele e minhas narinas queimavam. Meu coração batia tão rápido que achei que ele fosse sair pela minha boca, meus pulmões puxavam o ar desesperadamente mas nada encontravam.
A escuridão à minha volta se mexia, parecia se contorcer, tentar fugir do que vinha em minha direção... Passos largos, decididos, suaves, negros... A Morte. Ele caminhava com calma, olhava na minha direção e parecia poder saber todos os efeitos que usar a graça de Miguel causou no meu corpo, parecia ver que eu estava morrendo aos poucos, lentamente. Ele chegou perto e se agachou na minha frente, sorria não de uma forma ameaçadora, mas como se soubesse que aquilo iria acontecer.
- Bem bem... Acho que você sabia que isso iria acontecer certo. Tenho certeza de que Miguel avisou você.
Tentava emitir algum som de resposta mas a unica coisa que saía da minha boca eram aspirações ofegantes, uma dor parecia surgir no lugar do ferimento e irradiar-se pelo meu corpo... insuportável.
- Vou tomar isso como um sim... Você sabe que eu poderia matar você e seus amigos agora não sabe? Seria tão fácil e tão simples.... mas eu também recebo ordens, devo cumprir planos. E nesses planos, segundo essas ordens não devo levar você agora, ainda bem pois não era minha intenção...
Gabriel, ou o que Gabriel se tornara olhava fixamente para onde eu e a Morte estávamos, mas sua audição sobrehumana não era capaz de ouvir sobre o que falávamos, isso o espantou. Ele confiava na Morte e só queria que ela me matasse logo, queria estar livre de mim... eu o causava medo. E você só teme aquilo que sabe que pode derrotar você.
Mas até mesmo Gabriel começou a perceber que aquela conversa demorava demais, ele começou a ficar vacilante e sua mão escorregou e agarrou fortemente a ponta da sua espada na bainha.
Então o inesperado para Gabriel aconteceu... A Morte se levantou e foi caminhando na direção dele enquanto eu ofegava no chão.
- Mate ele agora Morte! É uma ordem! - Ele se desesperou
- Não recebo ordens de você, um insignificante anjo rebelde. - disse a Morte sem alterar o tom de voz.
Então no exato momento em que Gabriel puxou sua espada e tentou acertar o cavaleiro da morte, ele se desfez em fumaça para reaparecer atrás de Gabriel.
- Não tente nunca mais levantar uma espada contra mim Gabriel, pois eu ignoro todas as regras e mato você, levo você para as masmorras e terei o prazer de torturá-lo por toda a eternidade.
Gabriel se soltou e olhou furioso para a Morte, mas nada podia fazer, ele sabia o que aconteceria se tentasse matar a Morte.
- Ele é problema seu e não meu Gabriel. Se ele deve morrer pelas mãos de alguém não será pelas minhas, meu dever com ele só se iniciará mais tarde, essas são as ordens.
- Ordens de quem????
- Do Seu Pai.
Simplismente disse isso e desapareceu, tornou-se uma nuvem negra e desapareceu deixando Gabriel perplexo, assustado e com mais medo do que nunca, foi então que ele tomou a única decisão que poderia tomar naquele momento.... correu na minha direção disposto a me matar.














Continua........................................................