quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cap.16 - Lonely Day

Para onde eu estava indo? Depois de três dias sem rumo vagando pelas ruas do Rio de Janeiro finalmente tomei um rumo... não exatamente um rumo, mas uma direção, um lugar para decidir que rumo tomar. Desde de pequeno só havia um lugar onde eu conseguia esvaziar a minha mente e tomar decisões importantes e esse lugar era: Cabo Frio. E é para lá que eu estava indo.
Algo dentro de mim me dizia que se eu apenas sentase na areia da praia e visse o pôr do sol, eu saberia o que fazer, como sempre foi. Se eu apenas observasse o movimento das ondas, ouvisse seu barulho sendo cortado pelos ventos... somente isso poderia esvaziar minha mente.
Onde eu estava? Naquele exato momento eu estava sentado numa lanchonetede beira de estrada, na via lagos dirigindo para Cabo Frio. Tentava desanuviar meus pensamentos, eu precisava, pelo menos um pouco. Então eu tive a sensação mais estranha que tive em minha vida... tudo estava tão calmo, tão sereno, até ela chegar.
Ela era alta, possuía um porte de uma nobre, era linda e pelo simples fato de entrar pela porta da lanchonete, esse simples fato me despertou... fome. Me fez devorar meu sanduíche em questão de segundos e ainda assim eu estava com fome, e com a fome outro sentimento pareceu explodir dentro de mim: ódio, todo o meu ódio acumulado, toda a raiva que eu sentia de anjos e demônios, tudo o que eu sentia por todos naquele exato momento.
A mulher olhou para mim e sorriu, ela usava um vestido longo preto, que lhe caía erfeitamente, como se ela e o vestido fossem uma única peça, seus olhos eram tão negros quanto seu vestido e seu cabelo longo. Usava um cordão no pescoço cujo pingente era uma balança. Foi então que eu precebi que ela não sorria mais, ela me encarava.
- É falta de educação encarar uma dama, meu jovem. - Eladisse entre os dentes, até mesmo sua voz me causava fome, tudo nela me causava uma fome incontrolável.
Eu não respondi nada, apenas continuei olhando para ela.
- Você me parece com fome. - Ela disse
Eu tentava a todo custo desviar o meu olhar do dela, mas era simplismente impossível, era como se eu estivesse preso àquilo, como se ela estivesse sugando a minha alma. Me concetrei, retomei meu foco e por um instante de segundo eu pude desviar o meu olhar, somente para ver a cena horrenda que se passava a minha volta.
Havia uma criança no chão vomitando hamburgueres e ainda assim pegava mais da mesa e continuava a comer. Havia um casal se comendo numa das mesas, e quando digo se comendo, digo no sentido lateral, eles estavam se devorando e banhando a mesa e o lanche de sangue. E as outras pessoas do local não estavam tão diferentes.
Na porta haviam dois homens com sobretudos pretos, se destacavam dos demais, não só pelo fato de estarem serenos com tudo aquilo, mas porque pareciam se divertir com a cena. Levantei minha cabeça e olhei em seus olhos... eles... as órbitas negras vazias estavam no lugar dos olhos... eles eram demônios.
- Quem é você? - Eu perguntei para a mulher na minha frente sem olhar diretamente em seus olhos.
E pude ouvir da parte dela.
- Não tenha medo criança, não vou machucá-lo... não é meu objetivo primário.
- Do que você está falando? Quem... Quem é você?
- Vou te dar uma dica... você está com a moto do meu irmão lá fora.
- Do seu irmão? Você quer dizer... a Guerra?
- Sim... vamos ver se você advinha quem eu sou, olhe novamente ao seu redor garoto.
Eu não precisava olhar novamente, até porque a cena ao meu redor deveria estar muito pior agora.
- Você é a Fome!
E dessa vez eu não pude desviar o olhar do dela, ela sorriu e o lugar estremeceu, por um momento eu pensei que ele viria abaixo, pude perceber ao fundo que uma grande tempestade se aproximava... Os olhos dela...eram negros como a mais profunda noite.
- Você não é tão burro quanto parece... por isso não vou te matar agora. Vamos, pegue uma coca cola e vamos conversar um pouco.
- Eu tenho escolha? - perguntei entre os dentes.
- Não, não tem. Mas vamos dizer que o assunto vai lhe interessar. Agora beba!
Então uma sede sem limites tomou conta do meu ser, parecia que eu havia estado no deserto por anos, minha garganta arranhava, era algo incontrolável e desesperador. Não resisti, pulei o balcão e abri uma garrafa de coca virando até a metade num único gole.
- O que você sabe sobre o fim dos tempos, meu pequeno humano?
A sede parou da mesma forma que começou e eu senti como se meu estômago fosse explodir, eu não resisti àquela pressão e vomitei no chão. A Fome sorriu novamente.
- As vezes me esqueço de como isso é divertido, agora responda mortal!
- Sei o que todos sabem, da mesma forma que sei o que todos sabem sobre o início dos tempos. Deus e o Diabo, bem e mal, apenas isso. - Eu ofegava.
- Então seus queridos amiguinhos angelicais não te contaram a verdade? Isso é fascinante, por falar nisso onde eles estão?
- Eu estou sozinho.
- Hummm... entendo.
- O que você quis dizer com verdade?
- A verdade meu garoto, a lenda mais antiga de todos os tempos, o arcanjo perdido, nunca ouviu falar?
- Não.
- Então isso vai ser divertido, sente-se garoto... temos muito o que conversar.









Continua..............................................................

Um comentário:

  1. ¬¬ acho que nao preciso falar nada...Mas farei questao de repetir, POSTA!

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