segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cap.30 - Blood Brothers

Ainda podia ouvir ao longe o som de pássaros, podia sentir o vento soprando sobre os meus cabelos. Mas não conseguia me mover, estava parado, estático, como se minha alma ainda estivesse desconectada do meu corpo. Tentei me concentrar na fina linha de vida que ainda me mantia preso ao corpo, me forcei a abrir os olhos, tudo começou a ficar claro, a claridade invadiu minha mente. Por um momento senti que meu cérebro iria queimar, ainda assim sustentie meus olhos abertos. Sentia me um recém nascido vendo a luz pela primeira vez.
No entanto, a paisagem à minha volta não condizia em nada com onde eu me lembrava de estar pela última vez. A mesa fria dera lugar a um gramado iluminado pelo sol da manhã; as paredes deram lugar a um vasto horizonte. Eu estava em um campo, um prado que parecia não ter fim, eu conhecia aquele lugar de alguma maneira... eu já estive ali.... Aquele era o lugar onde eu havia me encontrado com Deus, mas havia algo de diferente, senti uma placa fria sob a minha cabeça.
Ainda retomando o controle do meu corpo, vi onde estava apoiado. Era uma lápide de mármore com algum nome.... Um nome que eu não houvia há muito tempo.
- Ana. - Balbuciei a palavra e me lembrei imediatamente de como ela havia ido parar ali... Havia sido minha culpa, minha causa. Ela trocou a vida dela pela minha.
Me levantei, as pernas tremiam, como se nunca houvesse caminhado antes. Aos poucos meu corpo foi reconhecendo seu dono, me dei conta de que estava com as mesmas roupas de antes de receber a graça de Miguel. Uma calça jeans rasgada nos joelhos e sem camisa, o lugar onde Miguel fizera o corte com sua faca agora exibia uma longa cicatriz.
Olhei ao meu redor e me dei conta de onde estava.
"Cemitério de Anjos" O lugar era repleto de lápides semelhantes a da Ana. Mais acima em uma colina um anjo estava descansando sob a sombra de uma árvore, ele estava de costas pra mim. Suas asas saíam de suas costas imponentes e caíam sobre suas costas, ele exibia uma cicatriz circular no meio das costas, como se uma espada o houvesse atravessado. A ponta de suas asas estavam chamuscadas e em algumas partes não exibia plumagem. Me dei conta pela primeira vez de que estava vendo um anjo em sua verdadeira forma, sua pele estava brilhante como se fosse ouro e atrás dele estavam parte de uma armadura.
Algo me levou a caminhar até ele, algo dentro de im se lembrava de tê-lo visto em algum lugar... Um velho amigo.
- Olá irmãozinho. - A voz ecoou no horizonte. Uma voz conhecida, uma voz amiga que se tornara a voz de desprezo e de morte.
- Luciano.
O anjo virou-se pra mim, estava de calças jeans assim como eu, exibia uma cicatriz circular na frente do tórax também. Ele parecia abatido, como se mil anos realmente o tivessem envelhecido.
- Sim. - Ele tocou a cicatriz - Essa é minha última marca como seu anjo da guarda. Geralmente os anjos derrotados em batalha tem seus corpos recuperados, livres de cicatrizes, imaculados. Mas de alguma forma essa cicatriz ainda está aqui... De certa forma, eu ainda estou aqui. Nem vivo, nem morto. Condenado a passar a eternidade lembrando do meu maior erro.
Ele encarava o horizonte, talvez tentasse não me olhar dentro dos olhos. "Traidor" foi o que eu pensei.
- E que erro seria esse? Talvez tentar entregar um amigo para a morte? Talvez ter traído seus irmãos? - Minha voz era de escárnio, jamais me esqueceria da traição dele.
Ele olhou nos meus olhos pela primeira vez. Pela primeira vez encarei um anjo face a face em sua forma real, ele estava abatido, sua expressão era de tristeza absoluta. As lágrimas caíam da sua face, o choro de um anjo era algo raro de se ver. Era a primeira vez que o via chorar.
- Muito mais do que isso Daniel. Quando tudo isso começou, quando fui mantido preso no inferno, quando Uriel veio me libertar... Eu achei, eu pensei que era meu dever proteger minha família, era meu dever tentar preservar a ordem como eu a conheci desde a minha formação. Eu fiz o que achei certo, traí você para poder manter a ordem que eu tanto prezava.... Eu estava enganado. Uma das coisas que eu aprendi a admirar em vocês humanos, era sau capacidade de se adaptar as mais novas situações, a não deixar se abalar pelas mudanças, a mudar junto com elas. Anjos deveriam aprender isso também. O medo da mudança me tornou cego e não me permitiu ver o que realmente estava acontecendo... Tudo já havia mudado, minha família havia sido destruída, meu Pai havia sumido e os irmãos que eu deveria proteger... Eu abandonei.
- O que está querendo dizer com isso? - Minha voz ficou calma novamente, eu sabia o sofrimento que ele estava passando. Eu também havia perdido minha família, eu também estava perdido entre a vida e a morte. Entre a divindade e a humanidade.
- O que eu quero dizer é... Perdão. Perdão por ter traído você, perdão por tê-lo abandonado... Você é meu irmão e meu amigo, eu deveria ter estado ao seu lado... Eu... Eu... Fui um péssimo irmão, um péssimo anjo... Um péssimo amigo.
Ele tentava de alguma forma desviar o olhar, mas seus olhos estavam presos, as lágrimas caíam copiosamente dos seus olhos.
Estendi a mão para ele, um gesto de amizade que o surpreendeu. Ele ficou alguns minutos sem entender o que acontecia. Estava mais perdido do que quando o encontrei.
- O que é isso? - Ele perguntou incrédulo.
- Minha mão. - Eu ri - Nós humanos costumamos chamar isso de um aperto de mão. Um sinal de amizade.
- Por que está fazendo isso? Você deveria me odiar... Isso... Isso...
- Isso chama-se perdoar. Nós humanos podemos ser imperfeitos, podemos estar longe de Deus, mas aprendemos algo ao longo dos anos... Aprendemos algo com Ele. Todos cometemos erros dos quais nos envergonhamos, todos sofremos por causa disso. A dor é inevitável mas o sofrimento é opcional. Não devemos ser condenados pelos nossos erros, devemos ser capazes de perdoar a nós mesmo e seguir em frente. Você errou e isso custou a sua vida. Mas você faz parte da família, Luciano. Você é meu irmão e assim como todos também merece perdão.
Ele estendeu a mão e tocou a minha, um sinal de amizade havia muito tempo perdido. A restauração da união entre dois amigos. Irmãos de sangue e de graça.
- O que está fazendo aqui? Você está diferente. - As sombras foram abandonando sua face aos poucos. O Luciano que eu conhecia estava vindo a tona, meu irmão.
- Não sei porque estou aqui. Estou me preparando para ir ao inferno. Preciso destruir os anéis dos cavaleiros, mas o único jeito de descer até lá e tentar voltar vivo é sendo um anjo.
Ele me encarou por mais alguns instantes.
- Miguel deu a graça dele a você? Isto é muito perigoso, ele é o arcanjo mais forte de Deus, a graça dele é uma boa parte da própria essencia do Altíssimo. Você sabe que pode morrer não sabe? E se você está aqui é porque de certa forma está morrendo.
- Eu preciso voltar Luciano, preciso destruir os anéis antes que Gabriel os tire de mim e os use pra liber Lúcifer.
- Os anéis são muito poderosos, se reunidos são capazes de libertar Lúcifer de suas correntes. Mas levá-los ao inferno e destruí-los é loucura...
Ele me olhou e percebeu que eu não mudaria minha decisão. Ele colocou a mão sobre o pescoço e pela primeira vez notei o cordão dele, semelhante ao de Miguel, a graça de um anjo. Ele tirou o cordão do pescoço e me entregou.
- Vai precisar disso. - Ele sorriu. - Gostaria de poder fazer mais... mas isso é tudo o que posso fazer no momento. Se quiser voltar do inferno vai precisar de mais graça do que Miguel pode te conceder. Coloque esse cordão no pescoço e o use para sair do inferno.
Ele começou a caminhar para longe de mim, estava indo em direção ao horizonte, seu rosto brilhava com mais intensidade do que antes. Seus olhos começaram a emanar um brilho intenso.
- Onde você está indo? - Perguntei.
- É minha hora de me juntar a todos os meus irmãos mortos. Minha missão foi cumprida. Viva a vida plena de um anjo Daniel, faça por seus irmãos o que eu deveria ter feito. Obrigado por ser meu amigo, mas agora é sua hora de voltar também.
Senti um vórtex me puxando para trás. Um vento forte, senti a linha de vida me puxando de volta ao meu corpo. Era hora de voltar. Vi Luciano se afastando cada vez mais, indo cada vez mais para o longe.
- Irmão! - Eu chamei e minha voz se perdeu no vazio.
Em um lampejo de luz vi Luciano se juntar aos meus pais, meus avós toda a família que eu não via há muito tempo...
- Estamos todos com você Daniel, não importa onde esteja. Tenho orgulho de você filho. - A voz do meu pai ecoou na minha mente, saudades de um amigo.
Tudo escureceu novamente, mas não por muito tempo.
Meus pulmões se contraíram de forma rápida puxando o ar com vilência pra dentro. O oxigênio queimava minha traquéia e uma onda de calor e dor atravessou meu corpo. Meus olhos viram a luz, e minha pupila contraiu-se imediatamente. As paredes voltaram ao seu lugar, já não estava mais na mesa, mas na cama.
Eu voltei... Eu estou vivo... Eu estou pronto para enfrentar o Senhor das Trevas.











Continua..................................

2 comentários:

  1. "A dor é inevitável mas o sofrimento é opcional."
    Sofrer ou nao sofrer?Sempre há como escolher neh mô?!
    Continue, estou louca pra saber o final q eu nao vou gostar XD
    Eu te amo p sempre! NEOQEAV

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  2. Vamos bater a marca de Maio esse mês, mais de nove posts!
    E parabens! o post além de muito bom ficou grande XD é um milagre, só espero q nao chova amanhã até pq quero ir de vestido pra aula =D
    Eu love you você p sempre! NEOQEAV

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